Já me ri até doer a barriga.
Já nadei ate perder o fôlego.
Já me queimei a brincar com velas.
Já fiz balões com pastilha elástica e fiquei com a cara peganhenta.
Já conversei com o espelho.
Já fingi ser bruxa.
Já me escondi atrás da cortina e deixei os pés à mostra.
Já preguei partidas por telefone.
Já apanhei banhos de chuva.
Já roubei beijos.
Já confundi sentimentos.
Já apanhei atalhos errados, e continuo a andar pelo desconhecido.
Já lambi o fundo das tigelas de doce.
Já chorei a ouvir música no carro.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que são as mais difíceis de esquecer.
Já caí da escada de rabo.
Já disse disparates.
Já meti os pés pelas mãos.
Já sai para andar sem rumo, sem nada na cabeça, a ouvir os meus passos.
Já ouvi elogios que não consegui aceitar.
Já fiz juras eternas.
Já escrevi o meu nome em paredes.
Já chorei sentada no chão da banheira.
Já fugi de casa para sempre, e voltei logo depois.
Já corri para não fazer ninguém chorar.
Já fiquei sozinha no meio de mil pessoas, a sentir a falta de uma só.
Já vi o pôr-do-sol em tons de rosa e laranja.
Já me atirei para a piscina sem vontade de voltar.
Já bebi álcool até sentir os meus lábios dormentes.
Já vi a cidade de cima e mesmo assim não encontrei o meu lugar.
Já senti medo do escuro.
Já tremi de nervosa.
Já quase morri de amor, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei a meio da noite e fiquei com medo de me levantar.
Já fiz apostas para correr descalço pela rua.
Já gritei de felicidade.
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas era sempre um “para sempre” pela metade.
Já me deitei na relva de madrugada e vi a lua dar o lugar ao sol.
Já chorei por ver os amigos partirem, mas descobri que depressa chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Já me surpreendi com as pessoas.
Já surpreendi as pessoas e já me surpreendi comigo mesmo.
Já passei momentos únicos sem fazer nada.
Já fiz momentos únicos parecerem nada.
Já agi por impulso.
Já não agi por pensar demais...
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados numa arca, chamada coração…
Posso dizer que sim, que já vivi alguma coisa…
“(…) para mim as coisas são simples: ou gosto ou
não gosto, amo ou não amo (…) Não tenho dúvidas, nem contradições, nem estados
de espírito, nem outra vida para viver onde ela não caiba. Para mim, que pouco
percebo do assunto, o amor é sobretudo a ausência de perguntas, de dúvidas, de
incertezas. É paz, segurança, eternidade."
